terça-feira, 17 de janeiro de 2012

O joelho III

Madrugada ainda e o Paulo me ligou no celular avisando que já estava na Linha Verde e que em poucos minutos estaria passando para seguirmos nossa grande aventura. Considerei essa viagem o mais difícil desafio ciclístico da minha vida.
Desci a escada com dificuldade pois o peso dos alforges mesmo carregados com o mínimo indispensável para a jornada, era bem razoável. Já embaixo, abri a porta do barracão onde estava morando provisoriamente e ganhei o pátio.
O cão de guarda, que nunca gostou muito do meu jeito, veio em minha direção entre desconfiado e curioso por me ver saindo àquela hora com a bicicleta, um fato incomum nos seus hábitos. Para evitar o risco de um ataque de surpresa àquela hora, em que a primeira dose de remédios para o parkinson ainda não estava cem por cento efetiva, coloquei entre eu e ele a bicicleta, como uma espécie de escudo. Assim meio desconfiados , eu e ele, segui em direção ao portão.
Já fora do patio, senti falta das minhas luvas. Recolhi a bicicleta novamente para dentro do patio e enfrentei o cão falando com ele com aspereza, para que ficasse longe.
Subi as escadas, peguei as luvas, dei uma última olhada em meu quarto/casa, quando o celular tocou avisando a chegada do meu parceiro de viagem.
Desci, apaguei as luzes, tranquei a porta, atravessei o patio meio tropego ainda pela falta da dopamina, sempre de olho no cão. Com a bicicleta fora, luvas e tudo mais conferido e pronto para encarar a estrada, dei bom dia para o meu sorridente companheiro de vida e jornada.
Passavam alguns minutos das cinco da manhã e eu não tinha tomado café ainda. Decidimos tomar café numa padaria no caminho. Um ponto onde sempre parávamos quando pedalávamos para aqueles lados.
O frescor da madrugada de início do outono, trazia uma sensação característica para as narinas. Uma sensação bem conhecida de dezenas de outras pedaladas com tempo frio, tão comum, que era até bem vinda.
Rapidamente cruzamos o trecho de asfalto da recém inaugurada Linha Verde. Seguimos então rumo à padaria e depois para a Estrada do Ganchinho, a ligação por estradas não pavimentadas com Tijucas do Sul, nosso primeiro destino sob forma de cidade. Até lá eram só povoados.
A sensação de estar pedalando já com os cem por cento de dopamina soltando a musculatura, é maravilhosa!
Seguimos em um ritmo tranquilo, com o barulho dos pneus bem calibrados para estrada de chão, soando como uma sinfonia entre os buracos e as pedras da estrada.
Gosto de ver o trabalho da suspensão dianteira da minha bicicleta quando estou pedalando em estradas não pavimentadas. A roda pulando e o guidão estável, os dedos indicadores levemente encostados nas manetes de freios e os polegares prontos a acionar o trocador de marchas, caso seja necessário, uma postura repetida centenas de vezes nos últimos anos em pedaladas memoráveis para vários lugares. Alguns indescritíveis pela beleza natural.
Vale aqui mencionar a velha máxima:
"Existem lugares onde só uma bicicleta pode levar você".
(continua...)

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