Saio ansiosissimo em vez das 22 horas programadas, às 19h45. A sensação de estar só na estrada, à noite, me fascina, por isso não consegui conter a ansiedade.
Movimento grande até por volta de meia noite e meia. Uma das primeiras surpresas foi a necessidade de mais luz, o velho farolete Cateye, embora eficiente, deixou a iluminação a desejar.
Depois da uma da manhã, o movimento de carros e caminhões praticamente acabou e a descida da serra, está poucos quilômetros à minha frente.
À noite todos os gatos são pardos, mas também o são gambás e raposas que vez por outra eram vistos à beira da rodovia.
Por volta das 2h30 começo a descer a serra, sózinho. Tão só, que invado a estrada e desço fazendo zigue-zague, como um moleque, ocupando as 3 pistas.
A sensação de estar só, é agradável e ao mesmo tempo assustadora, pois se alguma coisa acontece, não tenho a quem recorrer, mas sonho é sonho...
Por volta das 4 da madrugada, já adiante de Garuva, vejo uma cena insólita. Um caminhante com seus pertences nas costas, em passo firme e decidido, rumo a sabe-se lá onde.
Começo a refletir sobre aquela figura. O que o deve ter levado a caminhar na véspera de Natal daquela maneira? Não me parecia alguém indo trabalhar...
Por um momento me sinto como ele, também um caminhante da vida, a diferença é que, o que me conduz é a bicicleta.
A viagem rende bem, apesar dos alforges pesados. O cansaço ainda não bateu e sigo com o Mp3 Player estourando no volume. O menu musical é trance. Com a batida forte e ritmada, sigo golpeando os pedais, engolindo os quilômetros...
O movimento recomeça na estrada e decido parar para um café, quando furo o primeiro pneu. Escuro ainda, tombo a bicicleta de rodas para cima e começo a tarefa de substituir a câmara. Sinto alguns pingos de chuva e não ligo. Já estava com a roupa úmida com a cerração e a fina garôa da madrugada. Conserto feito, trato de achar um lugar para o café. O conserto durou pouco pois 50 metros à frente o pneu estava murcho novamente. Foi aí que a chuva engrossou mesmo. Busco abrigo mas não acho nada ao redor. Puxo a jaqueta de nylon por cima da cabeça e faço a substituição da câmara novamente. Encho bem o pneu com medo de novas surpresas. Agora sim!
Paro em um posto adiante um pouco de Joinvile e tomo um café expresso muito bom. Desperto a curiosidade de alguns que puxam conversa, querendo saber detalhes como, de onde venho e para onde estou indo...
Pé no clipe e vamos lá o último tiro com cerca de 100 km ainda por vencer, se continuar a boa média que tenho feito calculo que estarei em Bombinhas por volta de meio dia.
Tenho feito 22 km/h de média, mas o objetivo era 25 km/h. Um pouco pretencioso para minha condição física, mas acho que no geral, vou bem. Me hidrato com glico-dry misturado na água das garrafinhas e tomo um sache de glico-gel a cada uma hora, as cápsulas de BCAA, o aminoácido, fazem o resto do trabalho.
Concentradíssimo na batida da música e tentando "arredondar" a pedalada, tanto quanto possível no mesmo ritmo, sigo adiante. Já são mais de 12 horas na estrada e por volta de 9h30 passo por Camboriu.
O sol forte me pede uma parada para passar filtro solar. Penso em uma paradinha para descansar, mas desisto. Quero chegar logo. Estou cansado e surpreso com o desempenho que tive até aqui.
Entro em Porto Belo e o movimento é intenso. O frenesi natalino! Chego a Bombinhas por volta do meio dia, com sol a pino. Meio morto e meio vivo. Vou tomar um banho e dormir à tarde.
Boa tarde!
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