quinta-feira, 9 de dezembro de 2010

"O Salomão" invade o blog

"O Salomão" é um outro blog meu, cuja particularidade é lembrar histórias e personagens do bairro onde vivi boa parte da minha vida - Água Verde.
Outro particular de "O Salomão" é que o blog tem apenas um post e apenas um seguidor, que inclusive não sou eu (rsrs).
Na tentativa de manter o recorde histórico de 1 post e 1 seguidor, invado o parkinsonlimonada, com "O Salomão", para contar coisas que me vieram à lembrança nos últimos dias. Então, com a sua licença...
Na rua onde morava no tempo de infância, não tinha asfalto nem supermercado, mas tinha duas "vendas" de secos e molhados. A do seo Albino e a do seo Lima.
O Albino, com sua venda mais modesta e o indefectível tamanco no pé e a boina azul na cabeça careca, era a minha preferida. Não pela modéstia, mas porque no Albino, eu podia... digamos assim... subtrair doces da cristaleira de vidro, providencialmente transformada em expositor de doces.
Quando o pedido era de arroz ou feijão então ficava ainda mais fácil, porque os sacos de arroz e feijão ficavam dentro da casa dele. Imagino que a casa foi adaptada, para transformar a sala de estar em armazém. 
Ele saía da sala adaptada, com os tamancos fazendo plect, plect e quando o plect, plect parava, era a hora do crime. Crime do qual falo com tranquilidade, pois todos os que cometi lá no seo Albino, foram devidamente confessados ao padre Chico, nas confissões aos sábados à tarde e mediante a oração de alguns Pais-Nossos e algumas Aves-Marias, prontamente perdoados. Era algo assim como "zerar o saldo devedor". Uma maravilha!
O Lima por sua vez, era uma espécie de sub-super mercado, muito mais difícil de acessar. Além do mais, o Lima tinha uma verruga preta no nariz, o que o tornava repugnante.
Essa explicação foi necessária para contar sobre o dia de fúria do seo Albino, quando eu, no pleno exercício de minhas funções subtraentes, com meu saldo devedor zerado pela confissão do sábado anterior, fui flagrado pelo seo Albino, tentando subtrair um doce de abóbora, daqueles de coração.
O safado fez o plect plect, mas parou atrás da porta e ficou me "frestando"...
Quando eu estava com o doce, a meio caminho do meu bolso, ele gritou:
- Ladrãozinho!
Meu Deus! Eu estava com saldo zero! E o velho continuou:
- Vou falar para o seu pai. Vou chamar ele aqui e fazer ele pagar o doce!
Caraca! Pedi desculpas na hora e disse que foi o diabo que me tentou e me fez pegar o doce!
O velho deve ter dado boas risadas daquilo.
Epílogo:
Paguei aquele doce com jornais velhos, muito úteis para embrulhar as alpargatas roda, ou algum fumo de corda que ele vendia. 
Dai para a frente ele se tornou meu melhor "freguês" de jornal velho e eu o seu melhor "freguês" de doces.
Seo Albinoooo! Onde quer que o senhor esteja, muito obrigado por aquele dia e muito obrigado por ter passado pela minha vida!


Boa tarde

Um comentário:

  1. É sempre um prazer ler tudo o que escreves!!Mas esta história é uma delicia!!
    Um grande beijo e boas vibrações!!
    Bem hajas por partilhares as tuas histórias e as tuas vivências.

    ResponderExcluir