terça-feira, 19 de março de 2013

O Outono

Os primeiros sinais de mais um verão partindo para o hemisfério norte já estão aparecendo. Os pássaros já não fazem o costumeiro barulho matinal e o frio já deu suas caras por aqui.

Mais um verão se foi, dos muitos já vividos...

Sinto também o outono chegar em minha vida... Um tempo de observação do que já vivi... Tempo de despertar o espírito e degustar a experiência recolhida na caminhada empreendida.

Entre altos e baixos a vida me foi gentil e amiga. Percebo isso quando vejo o que vivi e a maneira como vivi minha vida... Ousei, arrisquei e algumas vezes fui muito próximo do limite...

Mas o que é viver?

Viver é pegar um cobertor numa noite fria e sentar lá fora, no quintal, de preferência com a sua companheira ou companheiro e ficar sentindo o friozinho da noite enrolado no cobertor sentindo o calorzinho do momento. Para que? Por nada além do prazer de estar ali naquele momento olhando o céu e sentindo os cheiros da noite.

Viver é cuidar de uma árvore que você plantou e esperar pacientemente que ela cresça. É imaginar como você espera vê-la daqui a dez ou vinte anos e projetar na sua mente como você estará quando ela atingir o estado que você imaginou.

Viver é ainda perceber que apesar do outono chegando, haverá alguns meses adiante um novo verão e os pássaros voltarão a fazer o barulho matinal.

Viver é abraçar as pessoas que você ama sem receios, sem pensar no que elas vão pensar...

Viver é abrir o coração e o sorriso num bom dia sincero a quem cruza seu caminho embora você nunca o tenha visto na vida.

Viver é aceitar você como você é, como você se construiu e construiu sua vida. Sem culpa, sem nenhuma vergonha de ter ou não ter feito coisas que devia ou não devia... Fazemos sempre o melhor dentro do que conhecemos, dentro da nossa vivência pela caminhada da vida...

Viver é acima de qualquer outra possibilidade amar sem limites, sem medo de se machucar, porque essa é a única maneira efetiva de ser feliz.

Bom dia

quinta-feira, 14 de março de 2013

Cheirinho de pizza no ar


O juiz da 1ªVara do Júri de São Paulo, Alberto Anderson Filho, entendeu que o estudante Alex Siwek, de 21 anos, que atropelou o ciclista David Santos Souza, não deve responder por tentativa de homicídio, mas sim por lesão corporal.
Para a Justiça, não cabe análise por crime intencional (doloso), como pretendia a polícia e o Ministério Público, mas por ação culposa. Na prática, se mantida a decisão, isso significa que o réu deve responder ao crime em liberdade e, mesmo se for condenado, pegará uma pena menor.
(fonte R7)
Sim claro! O pobre Alex Siwek, coitado, não teve culpa de ter tido vontade de fazer uma  prova particular de "slalon" entre os cones que separam a ciclovia da Paulista dos carros. Afinal ele estava voltando da balada bêbado, conforme ratificou o comparsa que o acompanhava, que na minha modesta opinião merece o "Troféu Dedão", pois afirmou que os dois tinham bebido na balada, sem a  menor cerimônia. O estranho é que o nível etílico do candidato a assassino desapareceu como num passe de mágica, pois o resultado do exame clínico do nosso pobre Alex deu negativo.
Qual seu sabor preferido? A minha à portuguesa por favor! Ah! Massa fina se possível!
O braço? Ah o braço... O que fazer com um braço já sem vida? O nosso pobre Alex Siwek possivelmente não terá seu braço amputado por um bêbado baladeiro, portanto nunca saberá o quanto isso atrapalha. 
O braço? Ah sei lá! Já não está morto mesmo? O Alex logicamente não iria deixar aquela coisa morta emporcalhando seu carro de sangue. Mais uma vez agiu certo, jogando o braço no córrego. Quando fez isso, pensou na natureza, nos animaizinhos que vivem no córrego e não têm o que comer. Afinal o braço já não ia servir para o ciclista...
Hm a de quatro queijos está ótima!
Alex Siwek, você é um moleque irresponsável, porém a culpa não é sua. A culpa é de quem quem o fez irresponsável e está bancando financeiramente mais uma putaria para isentar você de culpa.
Tenho vergonha, muita vergonha de falar sobre esse tipo de  assunto com algumas pessoas com quem tenho contato no exterior. Deveríamos todos nós brasileiros ter vergonha na cara! Deveríamos não achar "que tudo acaba sempre em pizza" como e fosse o normal acabar em pizza. Somos roubados diariamente e aplaudimos... Nos injuriamos com a canalhice, mas não fazemos nada!
Imagine seu filho com um braço amputado pelo pára-brisas de um carro dirigido por um irresponsável bêbado. Você ficaria quieto?

terça-feira, 12 de março de 2013

A professorinha

Abri minha oficina de bicicletas pronto para mais um dia de trabalho. Macacão e o cheiro da oficina... Trabalho! Bicicletas para desmontar e montar, consertar e pintar criando a possibilidade de gente voltar a pedalar...

Ela veio arrastando uma perna, com o braço esquerdo encolhido e a coluna meio torta para manter o equilíbrio. Tinha um jeito de andar muito característico, a marcha própria de alguém que tem algum problema neurológico. Na verdade me disse qual era, mas já não me lembro mais, tantos anos se passaram...

Contou uma história de superação... Contou que nunca se casara e que tinha se formado professora apesar de toda dificuldade de locomoção. Contou do preconceito das pessoas... Contou um dos seus sonhos... Pedalar uma bicicleta...  

Aquela frase - "moço, meu sonho é pedalar em uma bicicleta", me tomou o coração inteiro...

Não podia imaginar como aquele corpo, com aquela marcha tão diferente poderia se manter equilibrada sobre uma bicicleta.

A solução para isso ela mesma já tinha encontrado. Pesquisando na internet, ela descobriu um fabricante de triciclos em São Paulo. Bicicletas especiais para desabilitados. Mesmo assim, suas necessidades iam além do que o triciclo podia oferecer. O triciclo oferecia a solução para o equilíbrio em duas rodas, mas não para o seu braço esquerdo tolhido pela lesão cerebral.

Prometi a ela que iria achar uma solução e que ela iria realizar seu sonho. Um novo desafio pela frente me movia. Como fazer uma bicicleta segura e eficiente para aquela professorinha pedalar...

Entrei no site do fabricante vi as especificações do triciclo e encomendei um para trabalhar no sonho daquela pessoa que se revelou tão especial.

Trabalhamos como pudemos com os recursos que tínhamos eu e o Luan, que  me auxiliava na oficina. Sobrava um tempinho e lá íamos nos trabalhar no triciclo. Parecia um triciclo normal à  primeira vista, mas um olho um pouco mais atento iria de cara observar na dianteira da bicicleta pinças de freio duplas, na frente e atrás do garfo, com um comando único de frenagem para a mão direita. Essa foi uma das adaptações que fizemos.

Qualquer esforço é válido quando o objetivo é nobre... Tivemos recompensados a nossa dedicação quando vimos da porta da oficina ela alegre, como uma criança que acaba de ganhar um presente, pedalando seu sonho.

Apareceu no outro dia para agradecer.

E foi embora pedalando o seu sonho...

quinta-feira, 7 de março de 2013

Histórias...

Cada um tem a sua história particular e própria. Eu tenho a minha. Uma  história da qual me orgulho. Tornei-me um nome respeitado no meio de ciclismo em Curitiba, tive filhos, escrevi um livro e construí com meu amor, a nossa casa.

Material? Zero, nada, nadica de nada. Não tenho nada material pois nada consegui guardar nessa vida. O que consegui acumular foi quilometragem de vida, experiência adquirida em intermináveis altos e baixos, que felizmente reverteram numa esplêndida vida vivida. Nunca me acovardei diante de um desafio, aliás sou movido ainda hoje a desafios...

Desafio o Parkinson diariamente. Uma luta desigual, uma luta química, uma luta que não dá para lutar com as mãos. Luto com efeitos colaterais, mudanças de humor, luto com a tendencia a estar deprimido.  Parece trágico? Eu diria desconfortável... Nunca trágico...

A vida tem ensinado muito. O Parkinson tem ensinado muito...

Se você encontra uma grande dificuldade para superar na sua vida, a sua recompensa virá com força inversamente proporcional ao seu esforço de superação. Procuro sempre entender o que existe por trás de toda situação difícil. Sempre tem um ensinamento escondido. Sempre tem um segredo revelado.

Essa é a minha bagagem e meu maior patrimônio. Esse patrimônio não se perde, não se consegue roubar, não se aprende na escola, nem se compra.

Encaro a vida de frente, de peito aberto, sem medo...

nem mesmo de ser feliz...

segunda-feira, 4 de março de 2013

Brilho

Olá, meu nome é Entacapona, mas sou também conhecido por Comtan. Sou um medicamento que otimiza o efeito de um outro remédio para quem sofre da Doença de Parkinson.

Sei que muitos precisam de mim. Mas sabe, sem querer ser estrela, vou confessar que cansei de ter minha embalagem segurada por mãos tremulas. Cansei de ser posto na boca de gente que baba. Cansei de ser xingado quando ao tentarem me tirar da embalagem, por descuido de um treme treme qualquer caio, no chão.

Isso é um desabafo! Cansei!

Vou procurar uma promoção no Laboratório Novartis, que é meu fabricante. Pensei tipo assim, em tentar ser remédio para AIDS, que dá muito mais mídia, ou quem sabe uma outra doença qualquer... Mas que seja importante, não essa merda de parkinson.

Aliás, você sabe o que é Doença de Parkinson? 

Tá vendo? Como posso ser um medicamento de sucesso se  ninguém sabe o que é a doença que eu ajudo a tratar? Além do mais, ajudar a tratar é como ser vice alguma coisa. Vice prefeito, vice diretor... Ninguém sabe quem é...

Ah não! Não nasci para isso...

Vamos lá, segunda chance... Quem é o cara que dá o nome à doença, esse tal de Parkinson? Vamos lá sabichão, diga aí! Não vale correr pra wikipédia!

Tá vendo? Ele é um ilustre desconhecido... Eu não!

Cansei mesmo!

Não nasci pra ser nenhuma merda de vice...

Todo mundo busca crescer, porque é que eu não posso também?

Olha vou te contar uma coisa e espero que você me entenda - não frequento mais farmácias! Não adianta pedir pra eu voltar. Principalmente aquelas farmácias do governo, as que dão remédio pra aquela gente rude, aquele povo sem educação, sem estirpe. Eu hein????

Quero meu lugar ao sol. 

Quero brilho, não tremedeira!

Desculpe o desabafo e obrigado, já estou me sentindo melhor....

sábado, 2 de março de 2013

Maturidade

Até que um dia, você se torna mais maduro e pensa:

Nas palavras que deixou de dizer...
No abraço apertado de saudade...
Nas atitudes que teve...
No que falou e não foi ouvido...
Na esperança de construir...
Na decepção de ter destruído...
Na fé que tem nos homens...
Na sua concepção de Deus...
Na sua crença que mundo poderia ser mais justo...
Nas pessoas que não tem um teto...
Em quem não come a alguns dias...
Em quem não tem o que vestir...
Em quem não ouve uma palavra amiga...
Em quem é absolutamente só...
Em quem perdeu a fé na vida...
Em quem sofre as dores de não ser amado...

Então a maturidade se opõe à inexperiência dos anos...

Você começa a enxergar as coisas boas que arrecadou ao longo de anos vivendo... A serenidade de olhar "por cima da paisagem", não tem preço, não tem como aprender na escola... Custa muito caro... Os calos e as feridas que a vida vai deixando ensinam...
A perdoar e ser humilde o bastante aceitar o perdão...
A aceitar suas imperfeições...
A não cobrar pelas imperfeições do outros...
A ser paciente mesmo quando os outros não são...
A ver o sol nascer e entender que o sol nasce todos os dias,
não importa se você estará aqui ou não para vê-lo...

O tempo é o Mestre...

Tudo está no seu olhar...